Por Gabriela Callegaris
Imagine só a natureza crescendo livre, árvores por toda a parte, plantas que crescem e rompem o concreto em lugares que nunca se imaginou que pudessem estar, que não foram semeadas, calculadas. Um cenário utópico para alguns e distópico para outros.
Há quem diga que árvores fazem mal, quebram coisas, fazem sujeira; melhor seria cortá-las, plantar em lugar da natureza que cresce livre, higiênicas palmeiras enfileiradas, retas, padronizadas. Quem iria querer olhar para uma árvore de tronco retorcido, áspera, “suja”?
“Em Thneedville natureza não há/ Agradecemos sem parar/ Pois nós temos onde estacionar” é o que diz a canção do filme infantil O Lorax, baseado na história de Dr. Seuss. Thneedville é uma cidade de plástico, fechada em uma estrutura que esconde o mundo exterior de seus habitantes, que vivem felizes com suas árvores sintéticas que mudam de estação conforme queira o detentor de seu controle remoto; não fazem sujeira com folhas espalhadas, não têm raízes causando desconfortos, não se tornam lar de abelhas ou outros insetos. O ar, como já era de se esperar, também não é livre; os habitantes de Thneedville compram ar em embalagens plásticas. Se não há natureza para purificar o ar, deixe que as indústrias o façam.
A natureza, em O Lorax, foi destruída pela ganância capitalista – algo bem familiar e pouco fictício – e em seu lugar foi construído um mundo totalmente sintético, altamente controlado e completamente estéril. Quem se atreve a pensar no mundo do passado é punido, trancafiado. Afinal, se tudo é tão bom em Thneedville, por que buscar outras possibilidades, ainda mais algo tão ruim para os negócios como estruturas que crescem por aí desenfreadamente, produzindo ar fresco e o distribuindo de graça?
O filme, com suas cores chamativas e alegres e suas músicas chiclete, é uma verdadeira aula de educação ambiental para crianças e para adultos. A sensibilidade de Lorax, o protetor da floresta, é um sentimento que nos falta enquanto sociedade, a revolta diante da destruição sem precedentes que o capitalismo vem causando ao meio ambiente, diante da burguesia que teme e odeia a natureza porque não consegue controlá-la completamente e pela impotência de saber que sem ela, não há nós.
Pois deve ser dito e repetido o quanto for necessário: Sem natureza, não há humanidade, pois nós, apesar de negarmos, somos parte dela. A natureza e a humanidade são uma coisa só. Não defendê-la é atacar a si próprio.
A burguesia que destrói o meio ambiente em busca de lucros cada vez maiores, inconsequente e catastrófica, talvez consiga construir sua própria Thneedville, talvez consiga criar um escudo anti apocalipse climático, seja aqui ou em qualquer outro lugar que suas fortunas consigam alcançar. Mas e nós? A nós não restará nada. Sobreviveremos enquanto durarem os restos que nos forem deixados e enquanto conseguirmos correr do caos que nos foi legado pelos vermes capitalistas.
A luta em defesa do meio ambiente só pode ser contra o capitalismo. Tentar conciliar o causador do problema com uma suposta solução, é adiar o inadiável. Ou nos posicionamos contra esse sistema de exploração infinita ou nos posicionamos a favor de nossa própria destruição. Ou destruímos o capitalismo ou ele nos destruirá. Ecossocialismo ou barbárie.
Publicado em: 12/01/24
De autoria: Gabi Callegaris Gabi
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